Resenha The Hate U Give
Resenha feita para o Desafio Literário Livreando 2018 (DLL2018)
Categoria Janeiro: Um livro com uma lição de vida
Título: The Hate U Give (O ódio que você semeia, no Brasil)
Autora: Angie Thomas
Editora: HarperCollins
Páginas: 464
Gênero: Young Adult
Ano de Publicação: 2017
Nota: 4/5
Categoria Janeiro: Um livro com uma lição de vida
Título: The Hate U Give (O ódio que você semeia, no Brasil)
Autora: Angie Thomas
Páginas: 464
Gênero: Young Adult
Ano de Publicação: 2017
Nota: 4/5
"The Hate U Give Little Infants F*cks Everybody" - Tupac
The Hate U Give estava na minha lista dos devo ler desde que ganhou o Goodreads Choice Awards 2017 na categoria Debut Goodreads Author e Young Adult tirando do posto uma das minhas autoras preferidas do gênero: Kasie West (e um dos livros mais fofos dela também: By Your Side - quem não leu, leia).
Trabalho de estréia da autora Angie Thomas este livro retrata com exatidão um tema que, inacreditavelmente, ainda faz parte do nosso cotidiano: o racismo. A história é narrada em primeira pessoa por uma adolescente negra de dezesseis anos chamada Starr que testemunha o assassinato brutal e injustificável de Khalil, seu colega de mesma idade e cor, por um policial branco. Dividido em cinco partes conforme as semanas pós-evento, o livro mergulha na questão emocional desta adolescente e sua busca por justiça.
A obra foi inspirada em Oscar Grant: jovem negro americano assassinado por um policial indevidamente na California o que desencadeou inúmeros protestos e rebeliões à favor da igualdade racial em 2009. Além da tragédia citada, Thomas ainda acrescentou à narrativa eventos de sua própria vida, como o fato da protagonista ser uma das únicas negras de sua escola e ter testemunhado tiroteios ainda quando criança.
Preferi ler na língua original pois queria compreender ao máximo as barreiras gritantes existentes entre negros e brancos americanos a começar pelo modo de falar e suas gírias. Já tinha minhas expectativas do que encontraria nesta leitura mas me surpreendi ao perceber um racismo bidirecional também orientado, ainda que de maneira sutil, aos brancos.
A frase do rapper supracitada resume para mim o livro e a triste realidade enfrentada ainda hoje no mundo. The Hate U Give Little Infants: o ódio, o preconceito, a seclusão imputada aos negros desde a infância Fucks Everybody: reduzem suas oportunidades de crescimento e induzem a criminalização, culminando em um ciclo vicioso de violência e marginalização.
Nossa protagonista é uma filha amada de um ex-presidiário, moradora de uma região pobre regida por gangues e sonorizada por tiros. Criada testemunhando balas perdidas e amigos envolvidos no tráfico e consumo de drogas. Para uma melhor oportunidade de vida seus pais a enviam à Williamson Prep, escola de um bairro mais nobre povoada por basicamente brancos de renda alta. Starr então se sente presa entre os dois mundos vigiando seu modo de agir e falar, sendo incapaz de pertencer a nenhum deles. Após uma festa, ela e Khalil são abordados por um policial que acaba matando-o com três tiros sem motivo sendo, posteriormente, justificado pela mídia pelo fato da possível relação da vítima com o tráfico de drogas. Nada diferente de nosso país, não é verdade?
Somos rápidos em aceitar mortes de pessoas com possível envolvimento criminoso. Somos tentados em concordar com o medo do policial.
"... unless you're in his shoes, don't judge him, It's easier to fall into that life than stay out of it."
(a não ser que esteja em seu lugar, não o julgue. É mais fácil cair do que sair deste tipo de vida. - Tradução livre de parte de citação).
Quantas vezes negros não são olhados com medo, não são associados à violência e ao crime apenas pela sua cor? Não esperamos sempre o pior? Qual a diferença intelectual, de força, de capacidade, de beleza entre negros e brancos?
"I wish people like them would stop thinking that people like me need saving."
(Eu queria que pessoas como eles - brancos - parassem de pensar que pessoas como eu precisam de salvação. - Tradução livre de citação do livro).
Mas, ao contrário do esperado, pude perceber também no livro inúmeras referências ao preconceito dos negros com os brancos. Como o fato do pai de Starr ser contra o namoro da filha com o Chris (o personagem mais fofo) por ele ser branco, o fato de orarem ao Black Jesus (não pode ser apenas o Jesus nazareno de todos?), de se sentirem como os únicos que podem usar certos tipos de tênis Jordans ou Nikes e recriminarem brancos que dançam suas músicas ou seus passos.
Dei nota 4 ao livro por sentir que foi uma leitura um pouco cansativa. Achei que seria um page turner e fiquei um pouco decepcionada com o real resultado. Acho que pelo fato de ser um livro tão realista, o que o deixa emocionalmente carregado. Mas o recomendo a todos os que ainda sentem que cor de pele é assunto de discussão.
Acredito que enquanto houver esse debate, essa diferença do que negro (ou branco até) pode ou não pode fazer, de acharmos que são intelectualmente ou socialmente diferentes, a sociedade humana estará fadada ao fracasso.
"Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter." - Martin Luther King Jr
É uma lástima pensar que, cinquenta anos depois, o sonho de Martin continua na maioria das vezes apenas isso: um sonho.
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