Resenha O Príncipe
Resenha feita para o Desafio Literário Livreando 2018 (DLL2018)
Categoria Janeiro: Livro de um autor italiano
Título: O príncipe
Autor: Niccolò Machiavelli
Gênero: Não Ficção
Ano da primeira publicação: 1532 (póstumo)
Minha versão pocket: Editora L&PM, 2001
Páginas: 174
Nota: 4/5
"Preconizo que um príncipe não tenha outro objeto de preocupações nem outros pensamentos a absorvê-lo, e que tampouco se aplique pessoalmente a algo que fuja aos assuntos da guerra e à organização e disciplina militares, portanto apenas estes concernem à única arte atinente ao seu comando". - pág 71
O príncipe, originalmente intitulado de De principatus, foi escrito em 1513 por Maquiavel após sua demissão de um cargo político da República Florentina, onde serviu por quatorze anos, acusado de ser um colaborador do governo anterior e da política anti-Médici. O livro foi endereçado a Lourenço de Médicis, Duque de Urbino, que possuía o título de Capitão Geral da República mas governou Florença apenas por direito e não de fato. Na obra, Maquiavel busca aconselhar o nobre, baseando-se em observações feitas durante seu período de trabalho e em feitos de outros governantes, a reerguer uma Itália invadida e fragmentada.
"... seria preciso que a Itália fosse reduzida às condições em que hoje se acha, que ela se encontrasse mais escravizada que os hebreus, mais subjugada que os persas, mais dissipada que os atenienses o foram um dia, sem chefe, sem ordem, batida, espoliada, dilacerada, invadida, e que houvesse de suportar toda sorte de desgraças." - pág 125
".. não vemos a quem mais poderia ela apontar as suas esperanças senão à vossa ilustre casa, que, com a sua dita fortuna e o seu valor, amparada por Deus e pela Igreja, da qual sois príncipe, poderia assumir o comando desta redenção." - pág 126
Durante todo o livro, Maquiavel utiliza em seu discurso de duas condições: fortuna e virtú. A fortuna a que o italiano se refere é o acaso, as condições impostas pela vida ao sujeito enquanto que virtú (virtude) refere-se ao seu caráter e capacidade. Segundo o autor, estas são forças antagônicas que devem ser levadas em consideração para poder governar.
"Uma conduta semelhante deve ser observada pelo príncipe prudente, o qual jamais cederá ao ócio em tempos de paz, mas empregará aos seus esforços a constituir um aparato do qual se possa valer na adversidade, a fim de que uma vez traído pela fortuna, se encontre preparado para resistir". - pág 74
"- o homem prudente deverá constantemente seguir o itinerário percorrido pelos grandes e imitar aqueles que mostraram-se excepcionais, a fim de que, caso o seu mérito (virtú) ao deles não se iguale; possa ele ao menos recolher deste uma leva fragrância..." - pág 26
Acredito que Maquiavel seja considerado um dos fundadores da política moderna pelo fato de observarmos em seus textos uma contemporaneidade extraordinária à política atual. Várias de suas instruções são atribuíveis também ao governo democrata, bastando substituir o termo príncipe por governante. Apesar do autor ter sido posteriormente rotulado como frio e cruel, fui agraciada nesta leitura com diversas pérolas de sabedoria e acredito que qualquer pessoa em uma posição hierárquica de superioridade deveria lê-lo, ainda que para agir de forma contrária em algumas situações. Como o próprio Maquiavel disse no trecho supracitado, devemos nos espelhar nos grandes nomes que obtiveram êxito em suas atividades antes de nós para nos guiar em nossas decisões, e quem melhor que o presente autor que vivenciou uma era de domínios absolutistas e guerras em demasia para nos ensinar a liderar?
Nicolau ainda aborda em sua obra, com exemplos da época ou até bíblicos, acerca dos tipos de exércitos, das amizades e companhias de um soberano, dos gastos, da dependência de outras pessoas e/ou governos e sobre a superioridade de ser temido versus amado.
"O primeiro juízo que, por conjetura, formamos das faculdades intelectuais de um soberano ampara-se no conceito que fazemos dos homens que ele tem em torno de si. Quando estes são capazes e fiéis, podemos reputo-lo indubitavelmente inteligente, porquanto soube reconhecer-lhes as capacidades e conservá-los fiéis." - pág 113
"Com efeito, ser desprezado e odiado são situações que se incluem entre aquelas das quais um príncipe deve-se resguardar.." - pág 79
"... muito mais seguro é fazer-se temido que amado, quando se tem de renunciar a uma das duas....
E se os homens têm menos receio de conspirar contra aquele que se faz estimar que contra aquele que se faz temer é porque a estima mantém-se mercê de um compromisso, o qual, por serem homens perversos sempre vê-se rompido em favor de interesses pessoais, ao passo que o temor está assente sobre um medo de punição que não os abandona jamais." - pág 81-82
Todos, apesar de escritos há mais de meio século, são completamente extensíveis ao mundo atual e tal fato faz de O príncipe um clássico a ser lido por qualquer geração.
Em suma, uma leitura surpreendente pela magnitude e aplicabilidade de seu conteúdo.
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